As cirurgias
em crianças pequenas deixam todos, mas, principalmente, os pais, com o coração na mão.
Entregar a
vida de um amado seu nas mãos de um estranho, é uma tarefa das mais doloridas.
Num momento
ele está ali com você, brincando, abraçando, se divertindo, sem saber o que o
espera adiante. Logo mais, está numa maca hospitalar, desacordado – anestesia
geral.
Talvez seja
a primeira lição de desapego que a vida dê aos pais...
E foi assim
com aquela menininha de três anos. Chegou no hospital, serelepe, às sete horas
da manhã, como se fosse um dia normal de brincadeiras.
Como a
maioria das crianças, ela não gostava muito das consultas médicas em que o
doutor ou doutora ficava revirando-a de cima para baixo, de baixo para cima,
cutucando aqui, medindo isso, medindo aquilo.
Se pensasse
como adulto, certamente perguntaria: Como esses médicos encontram tantos
orifícios em mim para colocar esses instrumentos estranhos e gelados?
Então,
quando viu seu pediatra, todo paramentado, de máscara, touca, jaleco, percebeu
que algo estranho estava acontecendo.
Encolheu-se,
olhou para a mãe e o ficou encarando.
Os pais, que
a haviam preparado há alguns dias, explicando o que iria acontecer, voltaram a
dizer, com palavras simples, que aquele tio iria ajudá-la a respirar
melhor, a ficar menos doente.
Não
mentiram, nem enganaram a criança, dizendo que não iria doer. Sabendo do pós-operatório, sofrido para os pequenos, explicaram que estariam ao lado
dela quando voltasse a acordar, e que a dor iria passar.
E lá foi a
mãe, carregando a menina até a cama cirúrgica onde seria sedada. O receio seria
a reação dela quando desse conta de que estava num centro cirúrgico.
Porém, ela surpreendeu a todos. Deitou-se
calmamente. No ambiente havia
outros profissionais e, quando lhe
colocaram a máscara com o sedativo, ela ergueu os olhos, abriu um sorriso
enorme e, então,cerrou as pálpebras.
Mais tarde,
o anestesista residente, encantado, dirigiu-se à mãe e relatou: Que anjinho.
Nunca ganhei um sorriso tão verdadeiro assim...
Ela confiou
neles. Ela confiou nos pais. Ela confiou.
* * *
Como anda
nossa confiança em Deus?
Será que
enxergamos o Criador como esse médico experiente que sabe o que faz, a quem
entregamos nossas vidas?
Às vezes, o entendemos da mesma forma que uma
criança de três anos entende o conhecimento de um profissional de décadas de
experiência –quase nada.
E isso é
perfeitamente normal. Essa criança vai crescer e um dia vai compreendê-lo
melhor.
Mas enquanto
não o compreende, pois não o conhece, ela tem os pais para lhe dizer: Pode
confiar. Ela tem os pais para lhe mostrar a verdade do que vai acontecer, a
verdade adaptada à sua realidade.
É assim
conosco, é assim com a verdadeira religião, a que nos liga ao Criador através
do sentimento e da razão.
O sorriso da
fé é a certeza de que tudo que nos acontece é para nosso bem, gostemos ou não,
seja agradável ou não.
A fé nos dá
uma visão mais ampla sobre a existência. Ela nos tira da caverna e começa a nos
mostrar a luz lá de fora.
Redação do
Momento Espírita.