segunda-feira, 25 de junho de 2012

Falando sobre Atabaques - Por Sandro Mattos

Respostas de Sandro Mattos - Ogã Alabê da APEU - no fórum da REDE AFROBRASILEIRA.

a) NA CASA DE CULTOS QUE VOCÊ DIRIGE EXISTE UM TRIO DE ATABAQUES?

Sim, na nossa casa temos 3 atabaques devidamente cruzados.

b) VOCÊ ACHA QUE ELES SÃO OBJETOS SAGRADOS E DEDICADOS AOS ORIXÁS?

Sim. Os atabaques são instrumentos sagrados e consagrados aos Orixás. Um instrumento não consagrado não movimentará a energia necessária para o ritual.

c) QUE PODE PEGAR NESTE ATABAQUES?

Bom, se a pergunta é o que pode pegar, o instrumento é um ponto de energia dentro da casa. Traz o axé dos Orixás e seus falangeiros e movimenta as energias na casa. Ele pode então, tanto puxar as vibrações divinas como puxar a carga pesada que está em alguém, ajudando na limpeza do ambiente. Daí a necessidade de se cuidar constantemente dos instrumentos sagrados.

Agora, se está tratando de quem pode tocar o atabaque, somente os Ogãs devidamente preparados para tal. Sacerdotes que sabem tocar também poderão tocá-los. Um Ogã tem uma mediunidade própria para este fim, portanto, facilitará a transmissão de energia, pois quando toca, passa a ser uma extensão do instrumento.

d) VOCÊ ACHA QUE UMA MULHER, MESMO SENDO HOMOSSEXUAL, PODERÁ TOCAR UM ATABAQUE?

Temos aqui duas versões que devem ser respeitadas. Uma é a visão dos cultos de nação, onde o cargo ou função de Ogã é destinado apenas a homens.

Na Umbanda existe, além da figura do Ogã (aquele que tem um dom natural, que foi confirmado), surgiu a figura do curimbeiro, que é aquele médium que aprende a tocar atabaque e auxilia na curimba da casa. Por conta disso, a mulher ganhou seu espaço e pode atuar como curimbeira (não será Ogã, até porque o termo é masculino), porém, deve tomar alguns cuidados, como mnão tocar no período da menstruação. Existem muitas mulheres que tocam muito bem e são grandes auxiliadoras nas suas casas.

d) VOCÊ ACHA QUE OS ATABAQUES SÃO OBJETOS DE "REFERENÇA ESPECIAL" NA CASA DE CULTOS QUE VOCÊ DIRIGE?

Bom, não sou dirigente, mas sou Ogã Alabê da nossa casa. O atabaque é sim uma referência. Ele representa o próprio Orixá dentro do recinto e deve ser respeitado. Os médiuns devem cumprimentá-lo (saudá-lo), pedindo as forças dos Orixás, assim como se estivessem diante dos mesmos. Como disse, o atabaque é um centro de força, ele traz o axé e movimenta o mesmo na engira e em todo templo. Assim como devemos respeitar outros elementos de força na casa (altar, fundamentos, assentamentos, tronqueira, etc). São centros de força, portanto sagrados.

e) VOCÊ QUANDO VISITA UMA CASA DE CULTOS, CUMPRIMENTA OS ATABAQUES?

Claro. Como disse, são instrumentos sagrados que representam os Orixás. Quando participo de eventos, mesmo que fora dos recintos sagrados, se tem um atabaque, eu o cumprimento, pois sempre verei que alí temos força, temos axé!

f) VOCÊ ACHA CERTO, QUANDO ALGUNS OGANS QUE FIZERAM USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS TOCAM OS ATABAQUES?

Claro que não. O Ogã movimenta energias dentro da casa de culto. Deve ter consciência do que faz e ter muita responsabilidade. Não esquecendo que o mesmo faz parte da grande hierarquia da casa, justamente pela grande responsabilidade que tem em suas mãos, o Ogã não deve, jamais, ingerir bebidas alcoólicas e tocar o instrumento sagrado. Isso é falta de respeito e pode prejudicar, não somente a ele próprio, como aos demais irmãos que estão participando do ritual. O álcool age diretamente no cérebro da pessoa e interfere diretamente na sua capacidade de concentração e mentalização, importantíssimos para um bom trabalho do Ogã durante a engira/toque.

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"Gostei destas questões e da oportunidade de falar um pouco sobre essa função tão pouco debatida, tanto na Umbanda como nos cultos de nação. Obrigado!".

Sandro C.Mattos - Ogã Alabê da APEU

http://apeuumbanda.blogspot.com / www.apeu.rg.com.br

E-mail scm-bio@bol.com.br

Indico aos meus irmãos de fé:

O LIVRO BÁSICO DOS OGÃS - Sandro da Costa Mattos - Ícone Editora

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8 comentários:

Lyndy Luca disse...

Boa tarde, irmão Sandro! Apenas quero fazer uma observação ao que vc disse sobre a mulher poder ser curimbeira, ajudante: acho que a Umbanda evoluiu e já não vê as pessoas com tal preconceito. Da mesma forma como existem sacerdotes homens e mulheres (e todas as mulheres menstruam), afirmar que as mulheres podem ser apenas ajudantes é olhar com um terrível ranço de machismo para as mulheres, por conta de uma condição fisiológica natural que se em nada interfere no sacerdócio, que é a posição mais elevada dentro de um templo, fazer tal afirmação relativamente a função de ogã seria, realmente refexo do ranço do machismo, um preconceito que, como todos os outros, deve ser banido do seio de nossa tão amada religião. Afinal, todas as entidades que temos a alegria e o prazer de receber em nossa tão iluminada religião nos mostram que o que para o homem, com seu preconceito, são posições "inferiores", com sua luz, nos arquétipos de ex-escravos, de retirantes, de indígenas/aborígenes, pessoas que sofreram preconceitos e foram marginalizadas (todos os arquétipos de nossa Umbanda tem esse ponto em comum), então, nós, como filhos, temos o dever de banir os preconceitos de nossas vidas. Realmente discordo de você neste ponto, porque coloca a mulher como inferior ao homem, menos capaz que ele, o que sabemos que não é verdade, que nosso Criador não fez-nos melhores ou piores, e sim, iguais. Suas palavras, entretanto, levam a antiga e preconceituosa crença de que não, e pode induzir pessoas a permanecerem no atraso do preconceito. Apenas alerto que somos totalmente responsáveis por tudo aquilo que reproduzimos. Muita luz, irmão!

Sandro C.Mattos disse...

Lyndy, eu não falei que a mulher só pode ser ajudante. Só falei que ela não é chamada de Ogã, pois esse termo vem do yorubá e é masculino, por isso a mulher é chamada de curimbeira. Existem terreiros cujos atabaques são tocados apenas por mulheres e levam a curimba a gira inteira, sem problemas. Obrigado pelo retorno e sempre que puder, visite nosso blog. Abraços fraternos!

Unknown disse...

Olá Sandro, meu nome é Rose, ano passado fiz a minha primeira feitura e fui consagrada curimbeira, acontece que meu zelador me deu como Mãe de cabeça Oxum Opará, e desde nova frequentei vários lugares e sempre dava Ossain, nunca tinha feito nada justamente com medo, então resolvi fazer o ano passado, mas, após 3 meses de feitura eu comecei a sentir-me muito mal, como antes e resolvi fazer um jogo com um pai de santo de confiança e este me disse que eu não era filha de Oxum e sim de Ossain e que nunca ouviu falar em curimbeira, pois, mulher não toca atabaque. Estou cheia de dúvidas, pois, ele vai assentar minha mãe Ossain e vendo tantas coisas aqui, fiquei com a cabeça novamente a mil.
E agora o que eu falo?

Unknown disse...

Bom dia...
Dentro dos estudos da lingua Iorubá, Congo, JEJE outras nações encontramos uma singularidade na tradução da palavra Ogã, que seria o sacerdote escolhido pelo Orixá para trabalhar sem incorporar, mas mantendo toda sua sinergia e intuição ligadas ao plano espiritual.
Ja a palavra Alagbê - representa o chefe dos tocadores de atabaques, os instrumentos de percussão, dominante do atabaque Rum, que através dele o Orixá fará sua dança e com isso comandando os atabaques Rumpi e Lê.

Nesses anos todos que venho estudando a Umbanda, me deparo com muita situação de ensinamentos passados de pai para filho de Santo mantendo uma tradição de oralidade e preconceito sim, mas também de abertura e conhecimento.

Em meu templo, o que dirijo, a chefe da Curimba é uma mulher, que nunca havia sequer tocado no instrumento, mas que um dia o caboclo a mandou fechar os olhos e colocou-a de frente para o atabaque e dali ela tirou todo os som sem sequer abrir os olhos foi mágico vê-la emocionada chorar de olhos fechados enquanto tocava lindamente.

Saravá a toda evolução, a toda a igualdade e a todo o bom exemplo de mudança... no amor!!!

Oxalá nos abençoe!

Rita de Cássia disse...

Como se prepara um atabaque?

Unknown disse...

bom dia Sandro, gostaria de saber qual a posição dos atabaques dentro do terreiro? pode se tocar atabaques para orixás fora da corrente ou de costas para os médiuns e também se a consagração dos atabaques não forem feitas qual é a seriedade de usa-los sem este cuidados.

Anônimo disse...

Para se fixa na casa de culto como ogä tem que passa pelo o ritual de consagraçao;pode ser ogä sem ser consagrado..??

Sandro C.Mattos disse...

Rita de Cássia: quem firma um atabaque no terreiro é o guia mentor da casa. Cada casa terá seu ritual dentro do seu fundamento.

Carlos: normalmente temos 3 atabaques: rum, rumpi e lê. Mas a maioria das casas de Umbanda usa contra-rum e rumpi, porque os dois da ponta são (rum - muito grave) e (rumpi - muito agudo).
O atabaque deve ser de uso exclusivo do terreiro.

Anônimo: ser ogã é uma mediunidade, mas, para usar sua mediunidade de forma correta, dentro de um terreiro, o ogã deve sim ser preparado dentro do ritual de cada casa.

Desculpe a demora nas respostas.