Tudo pronto para mais uma gira.
Os ogãs já estão a postos, o
corpo mediúnico adentra ao terreiro, lá fora numa lata o carvão fumegante
aguarda a defumação que em seguida virá.
A assistência já lota o humilde
salão onde outrora fora uma garagem.
Ele observa a todos: ali na primeira
fila uma senhora de meia idade ansiosa espera o início dos trabalhos.
Observando-a descobre que está ali, pois acaba de saber que seu marido a está
traindo com sua "melhor" amiga.
Não muito distante dela, um jovem angustiado
pensa em suicídio se não conseguir amarrar o grande amor de sua vida.
Na
última fila aquele homem de aparência insuspeita quer um trabalho para
"apagar" seu concorrente nos negócios.
A tudo e a todos, ele observa atento.
Percebe que muitos estão ali acompanhados de estranhos seres, que lhes sugam
toda energia. Uma moça muito bonita se senta e chora, pois acabara de ser
despedida, justamente agora que estava planejando seu tão esperado casamento.
Daqui a pouco quando os passes começarem ele terá que explicar para cada um
deles que devem usar esta energia que envolve o centro para se beneficiarem
sem que seja preciso desejar o mal a ninguém. Pedirá à senhora traída que
perdoe e decida se deve continuar vivendo ao lado de alguém que já não lhe
ama. Ao tolo comerciante explicará que talvez devesse aperfeiçoar suas
técnicas de venda, ampliar seus negócios, ser mais cordial com seus fregueses
e assim superar a concorrência. Ao desiludido, irá argumentar que se matar
não levará a nada, que somente o afastará de seu grande amor e impedirá que
outros amores surjam. À jovem desempregada, ele mostrará que ela é bonita
e tem toda uma vida pela frente e com certeza amparada pela espiritualidade
haverá de encontrar um novo e melhor emprego.
Sabe que alguns o ouvirão e
seguirão seus conselhos, porém muitos vão se afastar, achando que a tenda
"não presta" pois não faz "trabalhos pesados".
Os estranhos seres serão
escorraçados por ele e seus fieis amigos. Muitos irão acompanhar os tolos que
se julgam acima de Lei Maior. Alguns serão levados a força para centros
espirituais de reabilitação.
Enfim começam os trabalhos os atabaques tocam,
as luzes são apagadas e tudo corre conforme ele previra. Ao final do
trabalho, passa pôr seu assentamento e sai gargalhando como todo bom Exu de
Lei, pois sabe que cumpriu sua missão e mais dia menos dia todos irão se
curvar diante das verdades que acaba de dizer.
Laroiê Exu!
Autor: Cássio
Ribeiro
Literatura indicada:
Conheça a história de Surgat Krone, o Exu de Lei Sete Portas.
Uma saga repleta de aventuras e ensinamentos.
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