sexta-feira, 9 de maio de 2014

Umbanda, Fé Cristã - Por Sandro Matttos

UMBANDA – FÉ CRISTÃ
Por Sandro C. Mattos (reedição)




De uns tempos pra cá, um assunto que não deveria ser polêmico, tomou conta das diversas listas e comunidades da internet: a Umbanda é ou não cristã?
Bem, existem aqueles que defendem a idéia de que a Umbanda não poderia ser cristã, pois esta seria uma religião baseada nos cultos afros.
Dentro da visão desses irmãos, apesar do respeito que demonstram, Jesus Cristo é apenas uma figura simbólica, relacionada através do sincretismo criado pelos negros ao Orixá Oxalá, naqueles tempos em que a Coroa Portuguesa, através do poder da Igreja, impunha aos escravos sua fé trazida da Europa. E aí, com o passar do tempo e com a associação dos cultos afros ao espiritismo e ao próprio catolicismo, teria nascido a Umbanda no Brasil.
Já os que defendem a idéia da Umbanda como um culto cristão, baseiam-se principalmente nas palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas que em 15/11/1908 informou aos presentes que estava iniciando ali, um novo culto, chamado Umbanda, onde espíritos de negros e índios poderiam praticar a caridade. Disse também que esta nova religião trabalharia baseada nos Evangelhos de Cristo e que teria como Mestre Supremo: Jesus.
Minha opinião colocaremos mais adiante, pois, antes disso, observações devem ser colocadas:
Estamos no início do século XXI, mais precisamente em 2011 (quase 103 anos depois da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel). Se a Umbanda não é uma religião baseada nos ditames cristãos, porque então os umbandistas continuam com a imagem de Cristo no local mais alto do congá? Afinal de contas não existe mais feitor, sinhozinho ou capitão-do-mato. Nem a perseguição policial que ocorria no início do século XX. Mas estamos lá, ajoelhando, orando e pedindo diante de Sua imagem.
Simples: porque no íntimo da grande maioria dos filhos de fé, Cristo é sem dúvida, o Ser de maior expressão espiritual que passou neste orbe.
Não bastasse isso, é extremamente comum observarmos nossas Entidades, em especial os Pretos Velhos, clamando forças a zin Nosso Sinhô Jesus Cristo. Teriam esses Sábios Guias de Luz, medo do sinhozinho, mesmo na espiritualidade? Ou até mesmo, medo da Igreja Católica? Não, claro que não. Eles pedem e louvam a Jesus (e até à Nossa Senhora) com imenso respeito e devoção, assim como rogam aos Orixás, pois sabem que assim poderão nos conduzir à trilha que nos leva ao Pai. Aliás, não podemos esquecer que a escravidão durou centenas de anos e que muitos negros escravos nasceram no Brasil, sendo que, ainda pequenos já se acostumavam com a religião local, tornando-se cristãos desde tenra idade. Era comum negros escravos que freqüentavam as missas, alguns obrigados pelos seus senhores, outros porque cresceram dentro de uma cultura católica. Além dos Vovôs e Vovós, isso é muito fácil de se
perceber numa gira de baianos ou boiadeiros, que rogam a Nosso Senhor do Bonfim e a Bom Jesus da Lapa. Até quando tratamos com Exus de Lei, estes demonstram um respeito e um carinho especial ao “Nazareno”.
Alguns o chamam até de “o Coroado” e se mostram satisfeitos em ter enxergado a importância em trabalhar baseado nos ensinamentos D’Ele (que é a mesma de outros líderes religiosos, ou seja, prestar a caridade livre e desinteressada).
Os próprios caboclos, os ancestrais legítimos deste país, sofreram influência cristã durante séculos e muitos são os mentores espirituais que hoje vêm nas casas umbandistas e que foram catequizados. Se isso foi bom ou ruim, não vem ao mérito, mas esse espírito não deixa de
aceitar os ensinamentos de Cristo, só porque era um indígena. O que fica é aquilo que lhe foi passado, nesta e em outras encarnações, afinal, os espíritos, em sua esmagadora maioria, não tiveram uma única passagem neste orbe. Tanto os negros escravos como os índios catequizados, tinham uma fé dupla, muitas vezes verdadeira, pois nada impedia que acreditassem nos seus Deuses e na figura de Cristo e seus ensinamentos.
Se não bastasse isso, existe um sem-número de pontos cantados que nos remetem à figura do Messias... “Abre a porta ó gente, que aí vem Jesus, e ele vem cansado com o peso da cruz...”, “Preto-Velho quando vem, ele vem aos pés da cruz, vem trazendo proteção para os filhos de
Jesus...” “Jesus nasceu, padeceu e morreu...”, “Seu cavalo corre, sua espada reluz, sua bandeira cobre todos filhos de Jesus...”, “... Xangô mora numa cidade de luz, onde mora Santa Bárbara, Oxumarê e Jesus”, entre outros.
Sem contar as preces utilizadas, inclusive o Pai Nosso Umbandista, baseado no Pai Nosso ensinado pelo Mestre cerca de 2000 atrás.
Quanto à relação da Umbanda a outros segmentos, notamos forte influência católica e kardecista (ambas religiões declaradas cristãs), somada a cultura e fé afro (influência dos espíritos de negros escravos e de ex-participantes destes cultos que vieram a se tornar
umbandistas).
Respeitando a visão de todos os filhos desta linda religião, porém, baseado nessas e em outras tantas questões que poderiam ser formuladas, somadas ainda às palavras do Caboclo das Sete
Encruzilhadas, particularmente, creio sim numa Umbanda CRISTÃ, universalista, ou seja, que não dá as costas para outros segmentos, desde que estes estejam voltados à prática da caridade e da evolução do espírito e, claro, tudo isso somado à fé nos Orixás, Guias e Protetores Espirituais.
Não creio que tudo isso ainda exista somente por causa de um sincretismo forçado, em tempos de escravidão, onde a Umbanda sequer era cultuada como religião em terras brasileiras.
O objetivo do texto não é criar polêmicas ou discussões, até porque seriam em vão, já que cada pessoa tem o direito de pensar e acreditar no que quiser, mas apenas de colocar alguns pontos que às vezes passam despercebidos mesmo durante os debates. E, além disso, tenho a certeza de que, acreditando N’Ele ou não, Jesus ampara a todos, assim como os Orixás, que independente até do credo da pessoa, estão sempre abertos a trabalhar em prol da caridade.
Que o Mestre Jesus Cristo, chamado carinhosamente por nós de Pai Oxalá, nos cubra com Vosso Manto Sagrado, envolvendo-nos com as energias que Ele traz do Pai Universal - Deus (ou Zambi, Olorum, Tupã,...).

Um comentário:

Conceição Florindo disse...

Voce foi muito objetivo, não resta dúvida que a Umbanda é Cristã!
Tão Cristã que não discrimina ou rejeita outras religiões, atendendo a todos que a procuram.
Temos definitivamente de tirar esse vicio que alguns colocaram de que a umbanda vem do Candomble ou melhor, culto de nação, pelo contrário a Umbanda é brasileira, renascida no Brasil, tendo origem Atlante, sendo sua influencia mais Indígena do que africana.Por aceitar a todos que a procuram tem sim alguma influencia, pelas pessoas que adotaram algum ritual. Ficou muito claro quando o Espírito do Caboclo das Sete Encruzilhada se manifestou e disse que seria uma nova religião,se identificou como Caboclo mas, aparentava vestes de um clero católico. Parabéns meu irmão Sandro seu texto e sua defesa esta muito clara e bem escrita. Somos Cristãos.