segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A Visita
















Lá vai o velho caminhado pela estrada. É noite quando chega à cidade. Poucos notam sua presença. A cidade tem pressa, o trânsito está insu-portável. Pessoas se preparam para chegar em casa, outras para ir à escola. Muitos cansados e desiludidos enfrentam horas de fila na vã espe-rança de obter uma colocação no mercado de trabalho.
Ele observa as pessoas, tem pena daqueles que já não carregam a esperança dentro de si. Vagarosamente, caminha em direção ao bairro nobre da cidade. Lá chegando, aborda um abastado senhor. Pede um prato de comida. Como resposta recebe um monte de impropérios. É escorraçado dali, pois a segurança é acionada. Entristecido, dirige-se à periferia.
Avista uma casinha de alvenaria, é atendido por uma senhora jovem, em cujo rosto percebe as marcas da tristeza. Pede comida. A moça argumenta que todos ali estão passando por dificuldades. O marido está na cama sofrendo grave enfermidade. Ela está desempregada, assim como os dois filhos mais velhos, o pequenino já não vai à escola, pois o dinheiro para a compra de material foi usado com remédios para o esposo. O velho ouve o relato emocionado. Prepara-se para ir embora, mas ela o surpreende o convidando a entrar. Diz: "onde comem cinco, comem seis". Sobre a mesa arroz, feijão e ovos fritos. Tudo o que podem fazer. Todos se sentam à mesa, menos o esposo que permanece no quarto gemendo de dor.
Antes de iniciarem o jantar, ela convida a todos para rezarem, pedindo a Oxalá que abençoe aquele alimento e as pessoas que moram na casa, e também pede saúde ao amado esposo. Faz mais do que isso, durante a prece, ela pede a Zambi que guie os passos do visitante, sinceramente comovida com a sorte de um velho solitário e errante. O velho sorri para ela emocionado e agradecido. Ela explica que é umbandista, freqüenta um terreiro ali mesmo no bairro. Está na gira há pouco tempo, mas ama profundamente os Orixás e Guias, pois foi com eles aprendeu a ter paciência e fé, nunca se desesperar, e a estar sempre pronta para prestar à caridade. E assim ela foi com prazer e alegria. É verdade que a família passa por dificuldade, mas, isso não os torna rancorosos ou revoltados. Assim que eles terminaram o jantar, o velho agradece a hospitalidade e deseja boa sorte a todos da casa. Lá fora a noite já chegou. Se depende da família, ele dormiria ali, porém a casa é tão pequena que isso seria quase impossível. Ainda assim, ofereceram para ele o sofá da sala. Ele agradece e acalma a todos dizendo que realmente deve partir. Antes pede para ver o marido que está no quarto gemendo de dor. Ato contínuo adentra ao quarto. Nesse momento algo de muito estranho acontece: uma enorme luminosidade toma conta do dormitório. O doente que até então gemia grita emocionado. A esposa e os filhos que estavam na cozinha correm assustados. Encontram o homem sentado na cama chorando emocionado. Nem sinal do velho. Após o choro a revelação. Quando o velho entrou no quarto suas roupas se transformaram numa veste de palha e forte luz saiu dele, envolvendo o doente que, imediatamente, se curou. Agora aquela família toda chorava. Lá fora na estrada, Obaluaiê sorria feliz e seguia sua caminhada. ATOTÔ!!!!

Autor: Cássio Ribeiro - Fonte: CasadeUmbanda

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