Por Fabiana Carvalho
Era uma vez um médium antigo da Casa, que sempre chegava em cima da hora (e muitas vezes atrasado!) para qualquer trabalho espiritual, sempre com mil e uma desculpas do quão foi difícil chegar ao terreiro, de tudo que estava fazendo e interrompeu para ir ao trabalho mediúnico.
Ao encerrar a Gira, sempre saía com pressa, não podia nunca ajudar na limpeza, pois precisava atender a mãe que ficou sozinha, ou os filhos que precisavam dele, ou a esposa/marido que não entendia sua vida religiosa e reclamava sua ausência, ou um relatório profissional que precisava ser terminado para o dia seguinte.
Esse médium fazia muita questão de deixar bem claro o quanto sua vida era ocupada e cheia de afazeres e que abandonava tudo para vir ao terreiro fazer sua caridade incorporado de seus Guias.
E quando um irmão se apiedava de sua vida tão sacrificada em prol da Umbanda, ele respondia: "A Casa precisa de mim, tem poucos médiuns confirmados! Além disso, meus Guias precisam trabalhar para evoluir!"
E suas incorporações eram sofridas, difíceis e cansativas pois, segundo ele, seus Guias exigiam demais de seu corpo físico e usavam muito seu ectoplasma.
Muitas vezes, alegava dificuldades financeiras (que faziam parte da sua encarnação tão cheia de problemas) e acabava por não contribuir (ou apenas parcialmente) nas despesas do terreiro...
Esse personagem não é de ficção e existe na maioria dos Templos Umbandistas. E por ser antigo na Casa, acaba cristalizando esse comportamento e se viciando nesta conduta.
Conceitos que devem ficar bem claros para qualquer médium (antigo ou novo):
1. Nenhum médium é insubstituível - nem mesmo o sacerdote! O Templo não precisa do médium; o médium é quem precisa do Templo, como um local físico e espiritual para praticar a caridade através da incorporação!
2. A espiritualidade sabe muito bem quantos médiuns confirmados a Casa tem e quantos terão condição de comparecer à Gira daquele dia. Há todo um planejamento no Astral quanto aos Guias que darão consulta, aos consulentes que virão, por qual Guia serão atendidos e do tempo de duração geral do trabalho espiritual. Então não há UM médium essencial ao trabalho; um corpo mediúnico saudável, consciente e bem disposto é que é essencial!
3. O Guia não precisa do seu médium de incorporação para trabalhar! Ele é um trabalhador de Deus e tem MUITO trabalho a fazer sem precisar estar incorporado aqui em nossa dimensão material. Se o terreiro faz uma Gira de Caboclo a cada 3 meses, o coitado do caboclo trabalha dando consultas durante 2 ou 3 horas e se vê obrigado a ficar de "licença obrigatória" até a próxima oportunidade 3 meses depois?? A incorporação é um milésimo do trabalho geral na vida de um Guia!
4. O Guia não precisa do seu médium de incorporação para evoluir! É a presença (incorporada ou não) do Guia, dando conselhos e orientações, que ajuda o médium a evoluir. Nós somos as crianças que muito pouco ou nada sabemos - os Guias são os adultos, pais e mestres, que com amor e paciência nos orientam, guiam e protegem. E eles muito trabalham no Astral para conquistar sua evolução sem precisar de nós!
5. As incorporações sofridas, difíceis e cansativas não acontecem por culpa do Guia que exige demais do seu médium... são produto do ego do médium que se posiciona como vítima de sua mediunidade e precisa chamar a atenção de seu sacerdote, de seus irmãos de corrente, de seus familiares e de si mesmo de quanto ele é um mártir do trabalho mediúnico e da Umbanda. Porque incorporar é algo suave, sublime e reenergizador - a maior preocupação do Guia, após terminar qualquer trabalho mediúnico, é deixar seu médium melhor do que estava antes de começar.
6. Não contribuir (ou fazê-lo parcialmente) nas despesas, no caso deste médium, apenas reflete a personagem "médium vítima" que ele criou para si mesmo. Essa atitude é o reflexo do não contribuir espiritualmente para o Corpo Mediúnico, da não consciência da importância do Solo Sagrado em sua evolução, da inversão das prioridades em sua vida - porque é comum ver esse médium com roupas novas, comprando livros, fazendo cursos, gastando em gasolina, se alimentando na lanchonete do terreiro... então a situação financeira não está tão difícil assim, não é?
Não se pode acreditar que ser "mais velho" no terreiro ou na Umbanda faz o médium ser imune à prepotência, ignorância, paralisia, desequilíbrio e negatividade. Ao contrário, esse médium deve redobrar sua autovigilância, pois o tempo lhe conduz à famosa zona de conforto e acomodação, onde todas as paralisias são prejudiciais
Repense seus conceitos, reveja suas visões, recicle seus conhecimentos e procure domar seu ego que pode se transformar no seu maior inimigo na jornada evolutiva desta encarnação!
Fonte: Jornal Umbanda Sagrada - ed.170
Um comentário:
Desculpas, justificativas, de um "médium", vítima do próprio ego. Realmente é muito lamentável !
Postar um comentário